Entenda as causas e as consequências do rompimento do tendão do ombro. A demora em buscar tratamento pode complicar a solução do problema.
Por Fernando Cinagava, ortopedista especialista em ombro e cotovelo.
Por que tive rompimento do manguito rotador? Por que meu ombro não aguentou? Qual é o melhor tratamento para o tendão rompido?
Se você tem essas dúvidas, saiba que todos nós estamos sujeitos a ter uma lesão nos tendões do ombro.
Aqueles que movimentam bastante os braços, seja pela ocupação profissional ou prática esportiva, são muito suscetíveis.
Os que não se cuidam fazendo exercícios para fortalecer a musculatura do ombro também correm risco.
A causa do rompimento do tendão do ombro é, via de regra, a sobrecarga, o resultado do uso e do desgaste nas estruturas da articulação.
A rotura pode acontecer de repente, de forma abrupta num momento de impacto.
Por exemplo quando levamos um tombo ou pancada, ao sacar a bola durante o jogo de vôlei ou na partida de tênis, ao levantar muito peso em casa ou na academia.
Outra possibilidade é a lesão surgir lentamente com piora gradativa, como se o tendão fosse uma corda que já está fraca e vai se esfiapando até arrebentar.
O problema é mais frequente em homens e mulheres que já passaram dos 40 anos de idade, porque nessa fase da vida já sofremos desgastes naturais do processo de envelhecimento.
A rotura ocorre na chamada zona crítica do tendão supraespinal, ou zona de Codman.
É uma área menos vascularizada e que por isso tem menor capacidade de se regenerar em caso de desgaste ou trauma.
Como usamos os braços todos os dias, sem perceber, agredimos continuamente a região.
É lesão sobre lesão até que o tendão se rompa.
Outra causa pode ser a Síndrome do Impacto Subacromial que nada mais é do que a compressão do tendão pelas estruturas ósseas e ligamentares quando levantamos o braço.
Nesta condição, o impacto no tendão é provocado pelo osso (acrômio) e pelo ligamento (córaco-acromial).
O sintoma mais comum de rompimento do tendão do ombro é a dor.
Dói quando a pessoa faz algum movimento com o braço e, em casos mais graves, até durante o repouso.
Dores noturnas são típicas deste tipo de lesão.
Além da dor, a pessoa perde força no braço e não consegue fazer alguns movimentos como o de elevação.
Em apenas 15% dos casos de ruptura do manguito rotador, o paciente não sente dores. Isso porque os outros tendões se adaptam e mantém, por um certo tempo, os movimentos do ombro.
Mas ao longo dos anos, essa compensação pode levar algo ainda mais grave, a rotura completa do manguito rotador porque os tendões trabalham de forma não natural, com sobrecarga permanente.
Se você leu até aqui, já entendeu que a cicatrização do tendão rompido não ocorre naturalmente.
O tecido não tem boa capacidade de regeneração porque é pouco irrigado pelo sangue e também sofre com o impacto subacromial.
O repouso ajuda a aliviar a dor, mas o problema continua ali e se revela na tentativa de fazer qualquer movimento.
O tratamento com medicamentos, inclusive infiltrações, e a fisioterapia não resolvem.
Alguns pacientes tentam tratamentos alternativos, ou seja, sem comprovação científica de eficácia. Até onde se sabe, nenhum resulta em cicatrização do tendão.
A única solução que temos hoje é a cirurgia do tendão supraespinal do ombro (manguito rotador).
Com intervenção cirúrgica, conseguimos suturar o tendão, prendendo novamente ao osso, para que a funcionalidade do ombro seja restabelecida.
A cirurgia é indicada para roturas completas ou parciais do tendão do ombro.
É realizada preferencialmente por videoartroscopia (técnica que permite que o médico opere com ajuda de microcâmera, fazendo apenas pequenas incisões na pele).
Mas, dependendo da situação, o procedimento pode ser feito também de forma tradicional, cirurgia aberta.
Em caso de rompimento dos 4 tendões do manguito rotador, pode ser necessária uma prótese de ombro, implicando em uma cirurgia de maior proporção.
A recuperação da cirurgia do manguito rotador depende da extensão da lesão, mas costuma levar em média seis meses.
O paciente passa por um longo processo de reabilitação fisioterápica até recuperar os movimentos e a força do braço.
Cada caso deve ser cuidado especificamente, pois a recuperação não é igual para todos.
Há pacientes que evoluem bem, com recuperação rápida enquanto outros demoram mais que o normal.
Felizmente, são poucos os casos em que a cirurgia não dá o resultado esperado e o paciente apesar de ter um alívio da dor, não recupera a força do braço e a mobilidade do ombro.
Um ortopedista especialista em ombro deve ser consultado o quanto antes em caso de suspeita de rompimento do manguito rotador.
A demora em buscar tratamento só agrava a lesão.
Cuide-se bem.
