O manguito rotador do ombro é suscetível a rupturas provocadas geralmente por esforços repetitivos que causam inflamação e fragilizam os tendões.
O tratamento fisioterápico bem conduzido pode dar ótimos resultados na regeneração das estruturas.
Mas se o tendão chegar ao ponto de se romper, só a cirurgia resolve.
Por Fernando Cinagava, ortopedista especialista em ombro e cotovelo.
A ruptura do manguito rotador é uma condição frequentemente observada em pessoas com idade acima de 40 anos que desenvolvem atividades repetitivas.
Qualquer uma, pode ser a prática de esportes, digitação e até tarefas domésticas.
Usamos muito os braços e, consequentemente, os ombros, por isso, ao longo da vida, os tendões da articulação são submetidos a um estresse contínuo chegando a ultrapassar a capacidade de resistência.
Isso pode desencadear uma tendinite, caracterizada pela inflamação gradual do tendão, e, com o tempo, resultar em ruptura.
Além disso, quedas ou movimentos bruscos também contribuem para a ruptura do manguito rotador, principalmente em tendões já enfraquecidos pela tendinite.
É importante ressaltar que uma ruptura raramente ocorre em um tendão saudável, mas sim em tendões enfraquecidos devido à degeneração causada pela tendinite.
Existe uma região particularmente vulnerável à ruptura no tendão, conhecida como a "área crítica de Codman", em homenagem a um médico e pesquisador do século passado que identificou esse ponto mais suscetível dos tendões.
Codman descreveu a área como hipo-vascularizada, ou seja, com baixa circulação sanguínea.
Essa característica faz com que o processo de regeneração das fibras nessa região ocorra de forma muito mais lenta.
Como a demanda contínua de esforços repetitivos provoca lesões sucessivas sobre o tendão, o grau de degeneração vai aumentado e gerando fibrose tendínea.
Os danos progressivos comprometem a resistência das estruturas até atingir um ponto onde o tendão não suporta mais e se rompe.
É possível regenerar tendões fragilizados caso haja dedicação contínua ao tratamento adequado.
A probabilidade de sucesso é mais alta quando a degeneração, com fibrose tendínea, é menor.
Nos quadros mais leves, o período de reabilitação fisioterapêutica necessário varia geralmente de 1 a 2 meses.
Já os casos mais graves podem exigir vários anos de tratamento.
O processo de recuperação envolve sessões semanais de fisioterapia, durante as quais são realizados exercícios regenerativos e de fortalecimento dos músculos e tendões na região do ombro.
Reforço que a persistência é fundamental para potencializar o tratamento e alcançar um bom resultado.
Quando o tendão se rompe, não há mais chance de cicatrização.
As fibras rompidas se tornam extremamente frágeis, não possuem mais a circulação sanguínea adequada e necessária para cicatrizar unindo as duas pontas.
Quando arrebenta, o tendão se retrai afastando as pontas do próprio ponto de rompimento, criando uma distância que impede a formação do tecido cicatricial.
Após a ruptura do tendão, não há opção de tratamento conservador, ou seja, não cirúrgico. Qualquer outro tratamento, como uso de medicamentos, infiltrações, fisioterapias, imobilização ou repouso, será paliativo.
É importante frisar que a infiltração articular com corticoide deve ser evitada quando há ruptura do manguito rotador, pois recentes publicações demonstram que a cirurgia feita após uma infiltração, tem menor chance de boa cicatrização da sutura do manguito rotador.
Na cirurgia, reparamos o manguito rotador usando uma técnica de sutura que envolve âncoras para prender o tendão rompido ao osso do braço (úmero).
No procedimento removemos a parte danificada e mantemos a parte saudável do tendão, assim é possível restaurar as funções, recuperando a força e a mobilidade do ombro.
Depois da explicação, espero ter conscientizado você sobre a importância de buscar tratamento o mais cedo possível, já que lesões antigas podem evoluir para rupturas maiores do manguito rotador, reduzindo as chances de sucesso nos tratamentos.