Dor e dificuldade de movimentos são os sintomas da doença que atinge principalmente as mulheres.
Por Fernando Cinagava, ortopedista
A maioria dos casos ocorre em mulheres depois dos 40 anos. É um problema relativamente comum. A incidência da doença varia entre 3% e 5% da população, ou seja, a cada 500 mil habitantes, de 15 até 25 mil pessoas sofrerão com a capsulite adesiva.
Outra característica da doença é acometer o ombro do braço não dominante. Ou seja, quem é destro tem mais chance de ter o ombro esquerdo congelado. Quem é canhoto, o ombro direito.
O paciente sofre dores terríveis e mesmo sabendo que a é uma doença autolimitada, ou seja, pode se extinguir sem tratamento ao final de seu ciclo, é preciso buscar ajuda médica. O período entre o surgimento e a cura é longo, pode levar até 2 anos.
Ninguém merece ficar sofrendo por tanto tempo, temos recursos para aliviar as dores e encurtar a duração das três fases da doença.
Apesar da doença ter sido descrita pela primeira vez em 1872, ainda há controvérsias sobre suas causas. Diversas teorias vêm sendo propostas, sendo que algumas apontam alterações do sistema nervoso autônomo como a origem desta patologia.
O que sabemos é que a capsulite adesiva consiste num processo de inflamação e espessamento da cápsula articular, a membrana que envolve o ombro. E resulta no enrijecimento deste tecido.
Estudos mostram que diabéticos e pacientes que utilizam benzodiazepínicos (remédios para dormir) tem maior propensão a desenvolver capsulite adesiva.
Percebo também, na experiencia clínica, uma correlação destes pacientes com níveis aumentados de estresse, ansiedade, preocupações.
E, na maioria das vezes, ouço relatos de uma dor prévia no ombro causada por bursite ou tendinite.
Também são considerados fatores de risco doenças como hipertireoidismo, hipotiroidismo, doenças autoimunes, doença de Parkinson, doenças cardiovasculares e traumas na região dos ombros, além de imobilização prolongada do braço.
Fase 1 - Qualquer movimento gera dor intensa - piora á noite Fase 2 - Ombro fica enrijecido - incapacidade de trabalhar fase 3 - Recuperação dos movimentos |
• Fase aguda ou de pré-congelamento
A doença começa provocando dores que vão aumentando de intensidade gradualmente em questão de semanas. Qualquer tipo de movimento pode gerar dor e no período da noite elas são ainda piores.
• Fase de congelamento
O ombro fica enrijecido, bloqueando por completo movimentos de rotação e elevação. A dor deixa de ser contínua, mas ainda incomoda à noite, irradiando pelo braço. A perda na qualidade do sono resulta comumente em irritação, agressividade e até incapacidade de trabalhar, realizar tarefas domésticas e cuidar de si.
• Fase de descongelamento e recuperação
É o fechamento do ciclo, quando o paciente percebe a redução significativa das dores e começa a recuperar a capacidade de fazer movimentos amplos com os braços. Na maioria dos casos, essa melhora ocorre após 1 ano de dor e limitação.
O tempo médio do ciclo da capsulite adesiva é de 18 meses podendo chegar a 2 anos. Existem várias opções de tratamento que devem ser aplicadas passo a passo. Quando uma já não consegue ajudar o paciente, aplicamos a outra.
São prescritas sessões de fisioterapia na frequência de 3 vezes por semana, voltadas para a restauração da mobilidade perdida.
Analgésicos
Os analgésicos ajudam tanto para facilitar a execução da fisioterapia quanto para aliviar a dor crônica da doença. Muitas vezes é necessário o uso de analgésicos mais potentes da classe dos opioides.
*Anti-inflamatórios não são recomendados pois tem pouco efeito sobre a capsulite adesiva, normalmente a pessoa não sente melhora ao tomar esta classe de medicamentos e o uso prolongado pode trazer efeitos colaterais.
Antidepressivos
Se há dificuldade de ganhar o movimento do ombro, a associação de antidepressivos deve ser considerada para diminuir a dor. É importante ressaltar que o objetivo da prescrição dos antidepressivos é aliviar a dor e não melhorar o humor.
Bloqueio do nervo supraescapular
Há outras ações possíveis, como bloqueio do nervo supraescapular por meio de injeção de anestésico no ombro doente. O procedimento deve ser realizado em consultório a cada quinze dias.
Se em 3 meses de tratamento não houver a melhora esperada, ou seja, menos dor e mais mobilidade, a solução pode ser a cirurgia.
São dois os procedimentos cirúrgicos indicados. A vídeoartroscopia do ombro ou a manipulação articular sob anestesia.
O objetivo das duas cirurgias é o mesmo, fazer com que a cápsula articular congelada seja liberada.
A primeira por meio de pequenas incisões videoartroscópicas na cápsula, uma cirurgia minimamente invasiva.
A segunda por estiramento mecânico capsular, realizado pelo médico com o paciente anestesiado para permitir movimentos que não é possível suportar sem a anestesia.
Após estes tratamentos a dor articular é muito aliviada, porém, é importante manter as sessões de fisioterapia até que se recupere a função normal do membro acometido.
O paciente deve ter conhecimento de que em casos mais graves, pode ser necessário repetir esses procedimentos cirúrgicos.
Portanto, caso esteja apresentando sintomas desta doença que atrapalha bastante a qualidade de vida, procure a ajuda do médico ortopedista para ser orientado e receber o tratamento adequado.
Assim você vai conseguir encurtar o ciclo da síndrome do ombro congelado e se recuperar o mais rápido possível.