Aconteceu o inesperado, especialista em cirurgia do ombro, sofri uma lesão e fui operado.
Por Fernando Cinagava, ortopedista especialista em ombro e cotovelo.
Ao longo da carreira fui ao hospital e cumpri a mesma missão milhares de vezes.
Entrei no centro cirúrgico para uma operação complexa e delicada, a cirurgia do ombro.
Reparar músculos, ligamentos, ossos é o meu trabalho.
Gratificante, porque devolve qualidade de vida ao paciente, mas também bastante exaustivo.
Pra relaxar da rotina de médico sempre gostei de uma boa partida de tênis, disputada, de sair com a camisa pingando de suor.
Entro na quadra pra ganhar.
Mas a vida me surpreendeu dando uma virada no jogo.
Estou experimentando uma posição onde nunca havia estado.
Me tornei paciente do ortopedista.
Na quadra de tênis, onde sempre me senti bem, percebi algo errado.
De repente surgiu uma dor ao levantar o braço e se repetiu a cada gesto mais enérgico.
Logo começou a perturbar o sono.
Tive que interromper a prática do esporte que tanto me dá prazer.
O que causou a lesão?
Um exame de imagem confirmou a suspeita: ruptura do tendão subescapular por sobrecarga.
Cometi um erro comum entre os meus pacientes, descuidei do preparo físico.
Qualquer pessoa, especialmente quem gosta de praticar esporte, precisa fazer exercícios de fortalecimento para proteger as articulações.
É um cuidado essencial para reduzir o risco de lesões.
E agora?
Diante do diagnóstico, conversei com minha equipe e decidimos pelo tratamento cirúrgico.
Além de ser uma lesão limitante, a longo prazo a ruptura do tendão pode causar prejuízos maiores à articulação, como a artropatia do manguito rotador e a artrose do ombro.
Complicações que quero evitar a todo custo.
Chegou o dia da cirurgia.
Fui internado no hospital às 5 horas da madrugada, em jejum.
Levei comigo todos os exames pré-operatórios de praxe e o exame de imagem do meu ombro.
Entrei no centro cirúrgico às 7 horas e dormi.
Acordei ao meio-dia ainda confuso, sem saber direito onde estava e com o braço operado totalmente anestesiado.
Fui levado ao quarto.
Aos poucos recobrei a consciência.
À noite o médico que me operou fez uma avaliação e me deu alta hospitalar.
Senti dor em casa? Sim.
Alerto meus pacientes de que os três primeiros dias após a cirurgia são os mais doloridos.
De fato, pude sentir na pele (ou melhor, no ombro e no braço).
Após cessar o efeito da anestesia, veio uma dor muito forte.
Tomei os medicamentos prescritos e dormi reclinado.
Assim consegui passar esse período com uma dor suportável.
Ainda não tem um mês que fui operado, mas a dor já diminuiu bastante, estou tranquilo e procurando me cuidar ao máximo.
Realizo somente movimentos leves com o cotovelo, mão e dedos.
Mantenho o braço na tipoia para que repouse em posição adequada.
A imobilização com a tipoia também impede movimentos bruscos por impulso, como tentar pegar algo que está caindo.
Um gesto impensado pode pôr a perder todo o reparo feito no centro cirúrgico.
E nada de dirigir por enquanto.
Minha próxima etapa de tratamento será a reabilitação fisioterápica.
Vou continuar dividindo esta experiência inesperada com vocês, trarei um novo relato.
Até breve.