Leva tempo para dominar as técnicas da artroscopia do ombro, um procedimento complexo que desafia o ortopedista.
Por Fernando Cinagava, ortopedista especialista em ombro e cotovelo.
Sabemos que a experiência é de extrema importância em tudo o que fazemos.
É o experimento prático do conhecimento. O meio de desenvolver a habilidade para fazer algo. A única forma de aperfeiçoar a competência técnica.
E como se dá este processo, de aprender na prática, dentro da medicina?
Como treinar para fazer uma cirurgia de alta precisão onde o erro pode ser fatal?
Muitas vezes não há uma segunda chance.
O médico tem que acertar de primeira para preservar a vida do paciente ou uma capacidade que lhe confere qualidade de vida.
Na medicina, especialmente em uma cirurgia, a experiência é primordial.
A formação de um cirurgião é um processo rigoroso que leva ao menos uma década.
Na faculdade de medicina são seis anos de estudo.
O treinamento prático começa na residência médica, um período de quatro anos para se tornar um especialista.
É uma rotina extenuante de estudo e participação direta na solução de casos simples e complexos.
Uma vivência necessária para deixar o médico pronto a servir o paciente.
Cada especialidade tem seus desafios.
Na minha área de atuação, ombro e cotovelo, a artroscopia ou videoartroscopia é um deles.
A artroscopia do ombro representa um grande avanço técnico na forma de diagnosticar e tratar lesões na articulação.
A recuperação do paciente é muito mais rápida e menos dolorida. O procedimento é minimamente invasivo comparado ao método tradicional.
Não é uma cirurgia aberta. Fazemos apenas pequenas incisões na pele do paciente, geralmente com no máximo 8 mm de diâmetro.
Por um destes orifícios, chamados portais, inserimos o artroscópio, um instrumento em forma de canudo muito fino, acoplado a uma microcâmera que transmite imagens, ampliadas e de alta qualidade, de dentro da articulação.
O cirurgião opera olhando para um monitor de vídeo.
Pelos outros portais entram pinças e o material para sutura e fixação de estruturas da articulação.
É um procedimento considerado de alto grau de dificuldade técnica.
Durante a residência médica o treinamento para realizar a vídeoartroscopia é intenso. Hoje são usados bonecos e softwares que simulam a cirurgia por vídeo no ombro. É bem próximo do real e ajuda bastante a desenvolver habilidade.
Mesmo assim, todo médico sabe que, terminada a formação, a curva de aprendizado para dominar o conjunto de técnicas da artroscopia do ombro dura 8 anos.
Aos poucos, o mais novo vai conquistando a destreza e a segurança necessárias para executar o procedimento com auxílio de equipe própria.
A autoconfiança e a prática caminham juntas.
Com o tempo também fica mais fácil tomar decisões e superar problemas inesperados que podem ocorrer numa cirurgia.
Enfrento o desafio da artroscopia há 16 anos, atuando como cirurgião de ombro e cotovelo em Londrina, no Paraná.
Já realizei mais de 1.800 videoartroscopias.
É uma caminhada considerável, mas quanto mais faço, mais percebo a complexidade da operação e o valor da experiência numa situação limite.
Humildemente, continuo estudando e procurando melhorar minha técnica para poder servir a quem necessitar de uma cirurgia do ombro e cotovelo.