Desgaste é natural, mas quem se cuida reduz muito o risco de lesões graves.
Por Fernando Cinagava, ortopedista especialista em ombro e cotovelo.
Os ombros sofrem os efeitos da passagem do tempo e o impacto do estilo de vida.
Afinal, como tudo que existe na natureza, nós também definhamos.
Carros, brinquedos, máquinas em geral, são engenhocas que quando quebram podem ser restauradas trocando as peças velhas por outras idênticas e novinhas.
Já recuperar os danos num organismo vivo não é tão simples assim, apesar de todo o avanço da medicina.
O ombro é uma articulação complexa, em caso de lesão grave a solução e a cirurgia, mas depois dela, por melhor que seja o resultado, nunca mais seremos os mesmos.
Teremos que reaprender movimentos, recuperar força e lidar com algumas restrições pelo resto da vida.
Não é só trocar as peças e tudo bem, afinal não somos uma máquina qualquer.
O corpo deve ser usado com consciência, preste atenção à sua rotina, moderação é a palavra que deve nos guiar.
Não exigir demais de si mesmo, nem se entregar ao sedentarismo.
Quando nos submetemos a esforços repetitivos, que sobrecarregam as articulações, estamos seguindo por um caminho que acelera a degeneração, provoca lesões e acaba na mesa de cirurgia.
Mesmo quando temos a melhor das intenções, ao praticar esporte por exemplo, o exagero faz mal.
Por outro lado, não se exercitar, fortalecendo e alongando o corpo regularmente, também é prejuízo certo.
A estrutura muscular precisa ser trabalhada para proteger nossas articulações.
Isso vale para qualquer pessoa, atleta, funcionário de escritório ou dona de casa.
Mesmo tarefas domésticas simples e digitação no computador exigem preparo físico.
O corpo dá sinais e se estivermos atentos, saberemos logo que há algo errado.
Para quem realiza esforço em excesso, o primeiro sintoma é a dor no ombro.
Quando ela surge devemos procurar ajuda médica sem demora, agindo de imediato para evitar a progressão da lesão e problemas mais difíceis de resolver.
Normalmente a dor na articulação surge após a terceira década de vida, quando começamos a perder massa muscular. Imagine alguém que ao executar tarefas domésticas, rotineiras ou eventuais, começa a sentir dor no ombro e não consegue mais fazer alguns movimentos.
Naturalmente, ela deixa de usar a articulação comprometida, vai improvisando no dia a dia, e, pelo desuso, o ombro fica ainda mais fraco e vulnerável.
Algumas pessoas começam a ter problemas logo no início da vida adulta porque nunca se exercitaram.
Não tiveram oportunidade ou não desenvolveram gosto por atividade física.
Foram crianças e adolescentes que provavelmente não brincavam muito fora de casa, não descobriram um esporte que gostassem e cresceram com a musculatura hipotrofiada, ou seja, fraca.
Quando assumem responsabilidades e a rotina fica mais pesada, envolvendo trabalho, serviço de casa e cuidados com os filhos, o corpo sente a sobrecarga e surgem as lesõe.
Maltratar os ombros provoca as famosas e temidas bursites, tendinites e artrites.
São nomes diferentes para problemas que têm uma causa comum: a sobrecarga.
Ou seja, voltando ao que eu disse no começo do texto, o corpo sofre o efeito do tempo e do modo de uso.
Conforme envelhecemos nossa capacidade física entra em declínio, é a vida! Mas uns envelhecem melhor do que outros.
Diversos fatores influenciam o envelhecimento saudável, mas o estilo de vida é, sem dúvida, um grande diferencial. Somos hoje o resultado do que fizemos no passado.
Fomos pessoas ativas?
Usamos o ombro respeitando os limites?
Cuidamos para que o corpo pudesse se recuperar dos esforços, dormindo e comendo bem, controlando o estresse?
O que tudo isso tem a ver com evitar a cirurgia do ombro?
A resposta é: tudo!
O que acontece com uma engrenagem avariada se continuamos usando? Estraga, quebra, funde.
O que acontece com o ombro dolorido se não tratamos?
As lesões aumentam e se agravam.
A ruptura dos tendões do manguito rotador e a artrose da articulação glenoumeral, são exemplos de problemas que exigem tratamento cirúrgico videoartroscópico.
No caso de artroses graves do ombro, muitas vezes a única solução é a cirurgia protética, onde substituímos a articulação desgastada por prótese metálica, refazendo a articulação.
Após as cirurgias, ninguém ganha um ombro novo, apenas recuperado, funcional.
O paciente pode voltar a sofrer lesões se não mudar de hábitos e passar a cuidar muito bem do ombro operado.
No caso da prótese, o tempo de vida útil depende do modo como nos movimentamos e protegemos o ombro de sobrecarga.
Usando com cautela dura mais, abusando nas atividades, logo se desgasta.
Moderação é a palavra de ordem. Cuide-se!